segunda-feira, 2 de abril de 2018

ORIGEM DO SANTUÁRIO E DE BOM JESUS DA LAPA.

               Não há como separar a história do surgimento do Santuário do Bom Jesus da Lapa com o da cidade, pois ambos estão entrelaçados e começa com Francisco de Mendonça Mar, um pintor português que veio morar no Brasil Colônia, habitando em Salvador (SEGURA, 1987).                                                                
Segundo Segura, (1987) Francisco de Mendonça, saindo de Salvador com uma imagem do Bom Jesus, em 1691 descobriu a gruta, que até hoje serve como a Igreja do Bom Jesus da Lapa e começou o povoamento do que hoje é a cidade de Bom Jesus da Lapa. A partir, daí começou o movimento de peregrinos e aventureiros, caçadores de ouro, mascates e vaqueiros, que subiam o Rio São Francisco, fazendo pouso na Lapa, para rezar, fazer promessas, dar graças a Deus perante as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora da Soledade, colocadas pelo Monge no altar da Gruta:
A cidade de Bom Jesus da Lapa começou sua existência à sombra do Santuário do Bom Jesus. Na data em que Francisco de Mendonça Mar chegou nessa região (1691), havia entre o morro e o rio São Francisco apenas algumas palhoças de índios Tapuias. Contudo, com o tempo, foram agregando-se devotos que resolveram fazer suas moradias perto do lugar, onde se achava a imagem do Bom Jesus (SEGURA, 1987,p 35).                                                                              
Assim, segundo Micek, (2006) Francisco vivia humildemente da pesca e de pequena área cultivada. Tornou-se conhecido pela religiosidade que se desenvolvia na Gruta. As embarcações que navegam no Rio São Francisco faziam paradas obrigatórias no Morro da Lapa e seus tripulantes contavam as notícias de que no coração do sertão, numa linda gruta de um morro à margem do Rio São Francisco, morava o “monge da gruta”,  num total desprendimento.    
       
         
                                                           Figura 2. Celebração no altar do Bom Jesus[1]

Segundo dados do Censo / IBGE 2010, a cidade de Bom Jesus da Lapa está localizada no Centro-Oeste do estado da Bahia, a 900 km da capital, Salvador, em direção ao oeste, e a 800 km de Brasília, dentro do Polígono das Secas. Possui uma população em torno de 63.508 habitantes, que vivem em sua maioria ao pé do morro, como também nos bairros da cidade. A origem do culto se confunde, em grande parte, com o surgimento da cidade, razão de o nome e o desenvolvimento até hoje estarem relacionados à organização e ao crescimento do culto. Castro (2004) observa que o Santuário de Bom Jesus da Lapa está situado no Médio Vale do São Francisco, onde a terra é arenosa, com uma vegetação baixa e rala, característica da caatinga e do cerrado. O clima é tropical, quente e seco. No período da estiagem, entre abril e outubro, não há chuvas, e toda a paisagem se reveste de uma coloração cinza-clara, dando um aspecto de tristeza.

A bacia hidrográfica da região, no entanto, é formada por muitos rios permanentes, que correm em meio ao sertão, banhando cidades, vilas e povoados que se formaram às suas margens. O Vale do São Francisco teve uma grande importância econômica no século XVII, durante o Ciclo do Ouro, ocupando uma posição estratégica na ligação entre o litoral e o interior do país, quando grande número de pessoas das províncias de beira-mar se transportavam com seus escravos para Minas.

Apresentada como a “Meca dos sertanejos” em Os sertões, de Eucli­des da Cunha (1985, p. 375), Bom Jesus da Lapa é o mais celebrado dos santuários sertanejos de peregrinação popular, o que transforma a cidade em um berço cultural baiano. O santuário foi classificado como uma das sete maravilhas do Brasil.

A romaria não apenas colocou o Bom Jesus da Lapa como uma das principais cidades religiosas do Brasil, como também constitui a base da sua economia (STEIL, 1996). A cidade vive em torno do santuário que, de certa forma, é responsável pela sua diferenciação em relação aos demais municípios da região. Atualmente Bom Jesus da Lapa é considerada a “Ca­pital da Baiana da Fé”.

Na concepção de Castro (2004), falar do santuário e não citar a gruta existente próximo a ele é considerado por muitos um grande erro. A Gruta do Bom Jesus da Lapa está localizada numa caverna natural de acesso à esplanada e funciona como a matriz e catedral da cidade, onde são celebradas as missas e os sacramentos fora do período mais intenso da romaria. No interior da gruta se encontra a imagem do Cristo crucificado, principal objeto do culto da romaria.                                                                                  
Nos dias de romaria forma-se uma extensa fila de devotos que pas­sam diante da imagem para rezar, agradecer as graças alcançadas e fazer pedidos. A mesma é formada pela infiltração das águas da chuva que du­rante milênios foram penetrando pela rocha porosa, esta gruta teria sido descoberta no século XVII por um vaqueiro ou pelo Monge Francisco de Mendonça Mar, de acordo com duas versões mais recorrentes sobre as ori­gens do santuário. (STEIL, 1996).

Breve histórico sobre a “Capital Baiana da Fé”

De acordo Barbosa (1995), o município foi criado em 18 de setembro de 1890, situado na região centro-oeste do estado e na Zona Fisiográfica do Médio São Francisco, com território totalmente abrangido pelo “polígono das secas” distanciando 800 km da capital do estado, por via terrestre. O município está situada à margem direita do Rio São Francisco, tomou o nome do lugar em que está o Santuário do Bom Jesus. Encontra-se a 429 metros acima do mar, tendo esta, uma população de 62.199 habitantes. Bom Jesus da Lapa tem na romaria seu maior meio de subsistência, bem como na cultura do cultivo de frutas no projeto Formoso, como também no cultivo de grãos e demais produtos agrícolas.
De tal modo, devido as constantes peregrinações que se transformaram em grandes e permanentes romarias, o povoado foi se desenvolvendo, atingindo a categoria de cidade em 1923 e chegando a ser município em 1953.
O fenômeno religioso e popular, marcado pela visitação religiosa e turística é uma marca registrada do município de Bom Jesus da Lapa. Conforme o censo 2010, a cidade tem uma população é de 64.446, situada numa área total de 4148,5 km², sendo banhado pelas águas do Rio São Francisco. Suas atividades econômicas estão baseadas na agricultura, pecuária, comércio, turismo religioso e pesca (IBGE, 2010).                                              
A cidade de Bom Jesus da Lapa concentra a terceira maior romaria do Brasil, no mês de agosto, conhecida como a   romaria do Bom Jesus em que atrai milhares de fiéis todos os anos. Mas seu potencial turístico pode ser explorado o ano todo. Particularmente entre os meses de julho a outubro, período a alta estação das romarias (CARVALHO, 2008, p 11).

Assim, a grande diferença o entre Bom Jesus da Lapa e as outras cidades da região é o morro e suas grutas que lhe conferem um clima místico e diferenciado e um estado permanente de romarias e visitação. “O mesmo, por sua singularidade conquistou os títulos de: Meca dos sertanejos, Capital baiana da fé e Primeira das 7 maravilhas do Brasil” (CARVALHO, 2008, p 27).                                                
                                            
                                                    Figura 1: vista da frente do Santuário do Bom Jesus da Lapa, Bahia[2]

O título “Meca dos Sertanejos” foi dado pelo ilustre Euclides da Cunha, que passando pela Lapa no periodo da Guerra de Canudos, registrou o fato. Assim, o jornalista e escritor brasileiro, Euclides da Cunha, ao entrar no Santuário do Bom Jesus da Lapa, observou suas curiosidades e o definiu como Meca dos Sertanejos, (CUNHA,1984) conforme descrição seguinte:                                           
Dentre os arraiais sertanejos, um se destaca e se diferencia dos demais: Trata-se de Bom Jesus da Lapa. É a Meca dos sertanejos, ostentando-se na serra de grimpas altaneiras, que ressoam como sinos; nos tetos pendiam “candelabros de estalactites” e nos corredores eram vistos “velhos ossuários diluvianos”; numa gruta semelhante à nave de um de “estranho templo”, alvo de “romarias piedosas”, o visitante observa “um traço sombrio de religiosidade singular”: “imagens e relíquias entre facas e espingardas”. O jagunço, ao adentrá-lo com sua arma, curva-se genuflexo sobre o chão e reza (CUNHA, 1984, p. 464).
                                                                   
Conforme podemos observar na figura acima, a explanada do Santuário está lotada, o que nos reme a meca, um verdadeiro centro de peregrinação.                       O nome de Lapa, segundo KOCIK (1978,p.18), veio da língua latina, derivando-se da palavra “lápis” que significa pedra. Assim, Itaberabá ou Itaberaba, Morro, Lapa, Lapa do Bom Jesus, Bom Jesus da Lapa, - eis os vários títulos ou topônimos pelos quais a cidade e o município de Bom Jesus da Lapa se tornaram conhecidos através de sua história. Assim, Kocik nos informa que:
Um morro, uma montanha calcária de aproximadamente 100 metros de altura, quase 2000 de circunferência. Nele se encontram várias grutas, das quais a mais importante é a Gruta do Bom Jesus, que mede aproximadamente 50m de comprimento, 15m de largura e 8m de altura e, a gruta de Nossa Senhora da Soledade aproximadamente 1500m². O Morro, de longe, parece uma catedral gótica, enfeitada com inúmeras pequenas torres, obra da erosão dos longos séculos. (KOCIK 1988, p 62).      
                                                                            
Segundo Alves (2014), o que faz deste lugar do oeste baiano diferente de Aparecida (SP) e Juazeiro do Norte (CE) é o visual, capaz de encantar o mais cético dos visitantes. Logo na chegada, o turista se depara com o Morro do Bom Jesus, monumento natural de 90 metros de altura e 2.000 metros de diâmetro, em cujo interior concentram-se seis grutas decoradas com imagens sacras que detalham o calvário de Jesus Cristo. Uma torre construída na entrada principal em formato de um castelo medieval é cercada por estátuas em bronze dos 12 apóstolos, obra de autoria do escultor Deocleciano Martins Oliveira Filho.
Finalmente, a visita ao santuário se completa com uma subida até o topo do Morro da Lapa, o caminho é íngreme e cansativo, mas a recompensa para os que fazem o percurso: uma linda visão panorâmica de toda a região (ALVES, 2014). No topo do morro está o Cruzeiro e a última estação da Via Sacra.

                                        (Foto do Cruzeiro que fica a 322 m no alto do morro)





Referencial:


ALVES, Roque Silva. A Arte de Rezar dos Romeiros no Santuário de Bom Jesus da Lapa: tradição e inovação. Bom Jesus da Lapa, Gráfica e editora Bom Jesus, 2014.

BARBOSA, Antônio. Bom Jesus da Lapa antes do Monsenhor Turíbio, no tempo do Monsenhor Turíbio e depois do Monsenhor Turíbio. Jotanesi Edições, Rio de Janeiro, 1996.

CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984 (Biblioteca do Estudante).
KOCIK, Lucas. Lapa: O Santuário do Bom Jesus. Bom Jesus da Lapa, Gráfica Bom Jesus, 1978.

KOCIK, Lucas. Maravilhas do santuário de Bom Jesus da Lapa. Bom Jesus da Lapa: Gráfica Bom Jesus, 1988. 

MICEK, Francisco. O primeiro peregrino do Bom Jesus: Francisco de Mendonça Mar. Bom Jesus da Lapa, 2008.

MICEK, Francisco. Santuário do Bom Jesus da Lapa: Guia de peregrinos e turistas. Bom Jesus da Lapa: Gráfica Bom Jesus, 2007

IBGE, estatística/população/estimativa2010: www.ibge.gov.br: Acesso em Novembro de 2014.

SEGURA, Turíbio Vilanova. Bom Jesus da Lapa. Resenha histórica. Bom Jesus da Lapa: Gráfica Bom Jesus, 1987.                                                                                   
STEIL, Carlos Alberto. O sertão das romarias: um estudo antropológico sobre o santuário de Bom Jesus da Lapa - Bahia. Petrópolis: Vozes, 1996.   





[1] Celebração no altar do Bom Jesus - https://pt-br.facebook.com/santuariolapa. Acessado em 02/12/14.
[2]. Povo reunido para a celebração. Disponível em: https://pt-br.facebook.com/santuariolapa. Acessado em 05 de novembro de 2014.