A região à esquerda e
direita do Rio São Francisco, no oeste baiano, do qual Bom Jesus da Lapa se
localiza, era ocupada por várias populações indígenas, dentre elas os tamoios,
cataguás, xacriabás, aricobés, tabajaras, amoipira, tupiná, ocren, sacragrinha
e tupinambás.
Os primeiros registros
da chegada portuguesa a Bom Jesus da Lapa datam do século XVI, quando Duarte
Coelho Pereira, o capitão donatário de Pernambuco, esteve no morro de Bom Jesus
da Lapa, em uma expedição exploratória, entre os anos de 1543 a 1550. Em 1553,
João III de Portugal determinou que Tomé de Sousa conhecesse as nascentes do
São Francisco. Francisco Bruza Espinosa, residente em Porto Seguro, foi o
responsável pela expedição que, segundo estudiosos, pode ter chegado até a
cidade, um ano e meio após o seu início. No entanto, não houve ocupação
permanente no local por lusodescendentes.
A colonização, de fato,
ocorreria somente no século seguinte, quando Antônio Guedes de Brito pecuarista
e latifundiário brasileiro, recebeu a sesmarias que compreendia várias regiões
do oeste baiano em agosto de 1663. Esta região, compreendida por municípios
como Bom Jesus da Lapa e que se tornou o segundo maior latifúndio do
Brasil-colônia, ainda era ocupada por nativos. Guedes de Brito, conhecido pelo
desbravamento, foi também reconhecido pela extinção de grande parte desta
população utilizando armas. Os indígenas restantes foram escravizados.
Estátua de Francisco de Mendonça Mar
Para efetivar sua
posse, Brito criou uma bandeira com duzentos homens para fundar fazendas de
gado. Muitas grandes propriedades foram criadas, incluindo a Fazenda Morro,
também conhecida como Itibiraba, da qual o povoado de Bom Jesus se desenvolveu,
mais tarde. Após sua morte, grande parte das posses foram distribuídas a
herdeiros e outras regiões foram vendidas. Mas a fazenda Itibiraba permaneceu
pelo poder dos Guedes de Brito.
Paralelamente ao
processo de colonização, o português Francisco de Mendonça Mar chegou à Bom
Jesus da Lapa. Peregrino para uns, andarilho para outros, descobriu um morro à
margem direita do Rio São Francisco. Nas redondezas do lugar existiam apenas
alguns currais de gado e empregados de Antônio Guedes. Distribuiu os seus bens,
fez-se pobre, andou pelo sertão vestido de um grosso burel e carregando uma
imagem do Bom Jesus, onde encontrou uma aldeia de índios tapuias. Francisco
instalou-se numa gruta na parte interior morro, onde foi encontrado por
garimpeiros. O local virou santuário em 1691.
A cidade começou sua
existência à sombra do Santuário do Bom Jesus. Mas, com o tempo, foram
agregando-se devotos que resolveram fazer sua moradia perto do lugar, onde se
achava a imagem do Bom Jesus. O monge construiu, junto ao santuário, um hospital
e um asilo para os pobres e doentes, dos quais cuidava. Assim começou a crescer
ao lado da lapa do Bom Jesus um povoado, assumindo o mesmo nome de Bom Jesus da
Lapa.
Durante o século XVIII,
a região de Bom Jesus da Lapa vivia um crescimento. Parte do território da vila
Urubu, atual Paratinga, o então povoado era um dos arraiais mais importantes
dali. Por meio do Rio São Francisco, viajantes estabeleciam contatos com outras
localidades. Além de Urubu, comércios eram feitos com o arraial de Bom Jardim.
Em 1734, a região foi mapeada por Joaquim Quaresma Delgado, um sertanista
contratado por colonialistas para percorrer o sertão mineiro e baiano.
Por meio do santuário,
também, várias cerimônias de casamento e batizados ali eram realizados. Vários
relatos, entre os anos de 1717 a 1781, referiam-se ao morro de Bom Jesus da
Lapa. Moradores de outras localidades, tais como Urubu e Bom Jardim, além de
freguesias mais distantes, como São Caetano do Japoré, Santo Antônio da Manga e
São Francisco da Barra do Rio Grande do Sul, optavam por realizar batizados no
santuário que, por meio de ofertas dos fiéis, mantinham escravos. Em 1750, o arraial era formado por cinquenta
casas de barro.
Até o século XIX, Bom
Jesus da Lapa permaneceu como parte de Urubu, e sofreu com conflitos de
banditismo. Até então juiz de paz respeitado pela região, Antônio José
Guimarães tornou-se um cangaceiro por conflitos políticos. Um de seus
interesses era ter o controle de Bom Jesus da Lapa e, para isso, formou
jagunços e teve, em sua equipe, o padre Francisco Alves Pacheco. Por anos,
invadiu localidades como Urubu, Carinhanha e Januária, até ser morto na
Província de Goiás em 1854.
Em 1852, Bom Jesus da
Lapa recebeu a visita de um grupo de geólogos austríacos, responsáveis por um
relatório da região. Naquela época, o arraial de Bom Jesus contava com duzentos
e cinquenta habitantes distribuídos em 128 casas. Em 1870, a população cresceu,
e contava com 1 400 pessoas em 405 residências. Bom Jesus contava também,
naquele ano, com uma delegacia.
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